domingo, setembro 30, 2007

iPhones desbloqueados perdem a garantia

Desde o momento de entrada do iPhone no mercado em junho nos EUA, os proprietários do aparelho, verdadeiros craques em tecnologia, ocupam-se revirando o interior do equipamento, descobrindo como adicionar softwares não autorizados e até como "desbloqueá-lo" para o uso em redes que não sejam da AT&T.

Mas, na sexta-feira, a web estava repleta de queixas de pessoas que haviam instalado a mais nova atualização do software do iPhone e, em seguida, tiveram todos os programinhas divertidos que haviam colecionado apagados ou, o que é ainda pior, seus telefones pararam totalmente de funcionar.

Mas isso já não seria de se esperar? Desde segunda-feira, representantes da Apple estavam avisando os usuários do iPhone que o uso de software de desbloqueio poderia fazer com que o telefone ficasse "permanentemente sem funcionar quando uma futura atualização de software do iPhone fornecida pela Apple fosse instalada". Contudo, muitos ignoraram os avisos.

Quem havia desbloqueado os telefones para usá-los com outra operadora correu o maior risco de, no jargão técnico, torná-los "bricked" (inutilizáveis), ou seja, com o mero valor de peso para papel. A maioria dos que cometeram violações menos graves, como instalar programas não autorizados pela Apple, apenas tiveram os programas apagados.

As pessoas criaram dezenas de programas para o iPhone, variando desde o inútil, porém divertido (um estourador de pipocas virtual) até o indiscutivelmente prático (um programa de captura de telas).

No entanto a todos que atualizaram o software do sistema do iPhone, processo que adiciona as mais recentes correções e melhorias da Apple, o uso desses programas está vedado. A atualização tornou o iPhone "quase impenetrável para qualquer invasão de terceiros", declarou Erica Sadun, desenvolvedora técnica de Denver que criou mais de uma dúzia de programas para o iPhone, incluindo o programa de captura de telas e um famoso gravador de voz.

Jennifer Bowcock, porta-voz da Apple, contou que quando as pessoas foram atualizar o software com o computador por meio do iTunes, um aviso foi exibido na tela do computador, deixando claro que qualquer modificação não autorizada no software do iPhone violaria o contrato celebrado pelo cliente ao adquirir o telefone. "A garantia do iPhone não cobre os problemas para usar o telefone quando o cliente faz modificações não autorizadas", explicou ela.

Houve relatos publicados na internet de que funcionários das lojas da Apple estavam ressuscitando ou substituindo alguns iPhones inutilizados. Mas Bowcock não ofereceu muita esperança para os proprietários do iPhone que estão com problemas: "Se o dano foi causado pelo uso de aplicativo de software não autorizado, anulando a garantia, recomendo que o cliente compre um iPhone novo".

Steven P. Jobs, presidente da Apple, declarou que a empresa quis manter o controle sobre as funções do iPhone a fim de proteger as redes de operadoras e garantir que o telefone não fosse danificado.

Sadun explicou que a comunidade de pessoas que gravam softwares não aprovados no telefone sabia que a atualização estava prestes a acontecer.

"Recebemos um aviso com duas semanas de antecedência", contou ela. Ainda assim, Sadun e outros disseram que ficaram surpresos com o exagero da Apple de desativar os telefones. "Tentamos pensar o melhor sobre a Apple", disse ela. "Negação é uma parte muito importante da natureza humana".

Até sexta-feira de manhã, Sadun mantinha um contrato com a editora Addison-Wesley para escrever um livro sobre a criação de aplicativos para o iPhone. Depois das notícias de inutilização dos aparelhos da Apple, ela recebeu um comunicado da editora sugerindo que pensassem em outro tema.

Já era de se esperar que a Apple tentaria impedir as pessoas de desbloquear os telefones, uma vez que isso poderia causar problemas para a AT&T, parceira exclusiva da Apple nos Estados Unidos no caso do iPhone.

"Não os culpo por combaterem os desbloqueios", declarou Brian Lam, editor do Gizmodo, um blog especializado em equipamentos. "Eles estão tentando ganhar dinheiro, como qualquer empresa. Até entendo. Mas ferrar totalmente com o telefone das pessoas, em vez de apenas bloqueá-los de novo e apagar os aplicativos me faz achar que a Apple está indo longe demais. Foi uma maldade fora do comum".

Em alguns casos, o aparente castigo pela instalação de software não aprovado foi implacável. Ross Good, estudante da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, havia adicionado diversos programas, inclusive um para intercâmbio instantâneo de mensagens. Depois da atualização, o telefone ficou em um estado de semi-inutilização.

Quando Good ligou para a Apple, a resposta foi seca. "Disseram que eu instalei software de terceiros no meu telefone e portanto a culpa era minha, sem discussão". Joel Robison, engenheiro de rede de sistemas da região de Seattle, contou que o telefone parou imediatamente de funcionar depois de baixar a atualização.

Ele disse que quando levou o aparelho para uma loja da Apple, foi acusado de ter desbloqueado o telefone. Mas ele argumentou que, com exceção de uma tentativa mal-sucedida de instalar um software de terceiros, não havia feito modificações no telefone.


"A acusação deles prejudicou muito a minha opinião sobre o atendimento da Apple", revelou Robison.

Noah Funderburg, reitor da faculdade de direito da Universidade do Alabama, em Tuscaloosa, e usuário de muitos anos do Mac, não se solidarizou com os hackers de iPhone.

"Todo mundo que invade sistemas deve saber que corre alguns riscos", declarou Funderburg. "Se não estão dispostos a assumir os riscos, como o de acabar com um iPhone inutilizado nas mãos, então talvez não devessem instalar esses programas no aparelho. "Nosso mercado é livre", explicou ele.

"Ou você compra um produto e aceita usá-lo de acordo com as condições que acompanham o produto, ou é melhor não comprá-lo. Aceite o fato de que nem sempre é possível ter tudo que se quer".

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